segunda-feira, 29 de agosto de 2011



do primeiro plano
e ao fundo na pintura
a mulher nua se mira

em terceiro plano 
e de lá nos observa 
do espelho-tela
me captura
seu corpo escancara
seu olhar devora
sou eu o voyeur
do lado de fora

ou seu perplexo objeto
de investigação?

lançado pra dentro
no vácuo abissal
das frestas da imagem
no vértice das pernas

fendas expostas 
no corpo da esfinge
seus olhos me sugam
seu sexo me encara

à margem das cenas
em discreto plano secundário
o pintor Lucien Freud

projeta o olhar sobre tudo  
no interplay visual dos dois planos
duas fronteiras tênues
dois espelhos d'água
na tela do monitor
e na janela desse álbum de fotos
transita o olhar do artista

que a tudo rastreia e a tudo desvenda

impõe seu fálico mirar oceânico
no perene recobrir de pele, carne e ossos
sedimenta sob camadas de cor
 sobre o leito da tela 
o corpo da mulher
que antes era pura nudez explícita
agora fala  de pintura

artista-analisando e analista
 imagem, análise e poema
chegam a seu termo
exauridos pelo mesmo 
corpo a corpo com o inesgotável tema
não têm mais nada a dizer
além das duas ou tres coisas 
que sei dela



 

igor k marques
jun.ago/2011




“duas ou tres coisas que sei dela”
[a partir de “Deux ou Trois Choses Que Je Sais D’Elle” de Jean-Luc Godard]

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