terça-feira, 27 de dezembro de 2011




OLVÍDALOS

DELÉTALOS


DESPÉTALOS


DECÉPALOS


ESCÁLPELOS






ENTIÉRRALOS

EN CUEVA HONDA

A TODOS

Y A TUS RECUERDOS

EXCRÉTALOS

PARA DEJAR BROTAR

EL POEMA






igor k marques

2006

quinta-feira, 24 de novembro de 2011




como um aguirre de Herzog
me arrasto sobre terra virgem
claudico
atendo exausto
às instruções do diretor

and all of a sudden
de pernas para o ar
I’m trapped
hanging up side down
and down side up

em terra estrangeira
enclausurado
entre quatro muros
sem histeria
sem ais

o assédio
e as retaliações
stop it
urros e cantatas
calma violência
é apenas um set de filmagem
nada mais

espirros de sangue
suor morno
surdo humor
mucos e pigarros
esperma e espasmo

para gerar um poema

uma frase de cada vez
na cabeça o Tibre
o timbre e o ritmo da palavra
ainda lacrada
na ponta da língua
na polpa do fonema







Igor K. Marques

20.01.1993
& 05.04.1996





quarta-feira, 16 de novembro de 2011





mono . cromo .  mono
silk sheet on black skin
charcoal and steel
ice on the moon
red spot on the back of a mandrill

os faróis na curva revelam
longas marcas de pneus
sulcos concêntricos no vinil
abrigam o som e o silêncio
mercúrio
(som)
marte
(o silêncio)
mais próximos da lua negra
(round spot on the full moon)

fenda rubra na pele branca
exala o doce aroma da carne

nadando em círculos
um tubarão em águas tépidas
saliva palavras
deflagrando a fala voraz
da presa e do predador
do ouvinte e do interlocutor
que por breves instantes
confundem papéis
na noite do eclipse lunar



igor k marques
25.03.1997

quarta-feira, 2 de novembro de 2011




      
HONRA DE MICA
SANGUE DE BARATA
EUFORIA DE ESTANHO
TAPA NA CARA
FEELING DE ALPACA

INSIGHT DE MAHATMA
SAUDADE DE BASALTO
DOENÇA RARA
MÁGOA QUE MATA
SUSSURRO DE BAUXITA
BEIJO NO ASFALTO 
OURO DE BANHO
PRATA VIRA LATA
PRAGA DE XIITA

METÁFORA DE XIPÓFAGO
OU RETÓRICA DE PROFETA?
PALAVRA DE ANTROPÓFAGO
OU JIVE DE POETA?



igor k marques
mar/2006
nov/2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011


   

 

como um selvagem na escuta
à espera da presa
oculto. inculto. cultuo
horas espreito
a palavra

no dissimulado gozo
da prostituta
na lavra secreta do esteta
no murmúrio contrito 
do sacerdote
a palavra 

no discurso pronto
daquele que não é poeta
inscrita no flanco de um tigre
no breu absoluto tateio
extraio do caos
da fenda na mata fechada
um nítido raio lunar
brilho em ponta de faca
a palavra não dita


ora sutil lâmina vertical
no olhar do felino
ora no ralo de esgoto
no fundo do poço
onde bruta a palavra vegeta


    

                             


igor k marques
03.07.06

domingo, 25 de setembro de 2011







letra escarlate
barking scar
bleeding star

star light letter
scar lettera
scarlet moon
bleeding blue

sangue blau
light blue
bright blood drops
letra por letra
in this september morning




igor k marques
20.09.04

domingo, 11 de setembro de 2011




em letra mordida
miúda
moída 
entre dentes
limados em surdina 
excreto blocos 
quase cubos
paralelepípedos
de palavras


exumo fardos
contendo cacos
de remotas falas
imersas em pó de cal
e ossos petrificados
rescaldo de língua morta
de um povo extinto
ruínas de discursos 
bençãos e orações
a um deus esquecido


lanço à superfície
dejetos de monólogos
murmúrios abafados
linhas cruzadas
em surtos alternados
de amnésia
com flashes cristalinos
de memória


erodidos por ventos
chuvas
e guerras seculares
detritos surdos
do que já foi música


igor k marques

1996

segunda-feira, 29 de agosto de 2011



do primeiro plano
e ao fundo na pintura
a mulher nua se mira

em terceiro plano 
e de lá nos observa 
do espelho-tela
me captura
seu corpo escancara
seu olhar devora
sou eu o voyeur
do lado de fora

ou seu perplexo objeto
de investigação?

lançado pra dentro
no vácuo abissal
das frestas da imagem
no vértice das pernas

fendas expostas 
no corpo da esfinge
seus olhos me sugam
seu sexo me encara

à margem das cenas
em discreto plano secundário
o pintor Lucien Freud

projeta o olhar sobre tudo  
no interplay visual dos dois planos
duas fronteiras tênues
dois espelhos d'água
na tela do monitor
e na janela desse álbum de fotos
transita o olhar do artista

que a tudo rastreia e a tudo desvenda

impõe seu fálico mirar oceânico
no perene recobrir de pele, carne e ossos
sedimenta sob camadas de cor
 sobre o leito da tela 
o corpo da mulher
que antes era pura nudez explícita
agora fala  de pintura

artista-analisando e analista
 imagem, análise e poema
chegam a seu termo
exauridos pelo mesmo 
corpo a corpo com o inesgotável tema
não têm mais nada a dizer
além das duas ou tres coisas 
que sei dela



 

igor k marques
jun.ago/2011




“duas ou tres coisas que sei dela”
[a partir de “Deux ou Trois Choses Que Je Sais D’Elle” de Jean-Luc Godard]

sábado, 27 de agosto de 2011




all things must pass 
all things must pass away
start & return
round & round
to end up in the middle
do centro-oeste semiárido 
the middle of nowhere

como um escaravelho 
irreversivelmente emborcado
suas seis patas e casco oscilando 
em êxtase no asfalto da estrada
embriagado pela luz âmbar
das lâmpadas de mercúrio

how long will it take
to learn the art
the art of dying?



igor k marques
16.06.99
foto: igor k marques - 2012

quinta-feira, 11 de agosto de 2011



acima
num penúltimo blues
o céu cinza
das cinco
e quatro
anuncia o inverno
e acende o néon rubro
do marina de Ipanema
à minha direita
e em torno
a praia

a visão é nítida
e ampla
no centro de 180 graus
na altura do olhar
rasante e manso
o oceano gris

e imediatamente abaixo
em perpendicular
grãos & grãos
onde se pulverizam
as palavras
em círculos
de areia movediça
grãos & grãos
evocam saharianas
silenciosas dunas
em pequeníssima escala
a poucos centímetros
do meu nariz


igor k marques
20 de nov/1993
8 de ago/2011

foto: igor k marques


domingo, 31 de julho de 2011


sinuca de boca
entrecortada
carraspana 
nas costas 
auto flagelo ou 
coito contínuo? 

entre espasmos 
de orgasmo 
algum motivo 
de pânico 
antes do salto 
imortal 

ininterrupta sequência 
circense 
moto perpétuo 
viver num trapézio 
the show must go on 
morrer na lona 
o corpo lançado 
para cima e para baixo 
no impulso final 
da cama elástica 


o último pedido 
before I die 
let me rise 
above this ceiling 
let me rise 
towards the sky 



igor k marques 
nov/ 1997 
foto: igor k marques 
 mar/2011






sexta-feira, 22 de julho de 2011



o som é que fala
e de improviso
entra solando
pisando duro
marcando o ritmo

a imagem da sua máscara
é a que se cala
não estou aqui
pra lhe dizer como é
texto não é legenda
é cara a cara
na entrelinha
mina & sangra
no reverso da imagem
nas entranhas da palavra
harmonia 
e dissonância

na cabeça 
o ritmo
entre o púbis
e o quadril
para a música
que você ainda
não ouviu 

sintonize fino
pra escutar o rude
olhe a onda quebrar
pra falar de limite 
é preciso revê-lo mudo
reeditá-lo calado
fotograma
por fotograma
no monitor de uma ilha
ou no deserto 
de atacama



igor k marques
set./2003
set./2010

foto: igor k marques
2011

Veja outras matérias

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...