segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

mono cromo mono


 
mono cromo mono
silk sheet on black skin
charcoal and steel
ice on the moon
red spot on the back of a mandrill

os faróis na curva revelam
longas marcas de pneus
sulcos concêntricos no vinil
abrigam o som e o silêncio
mercúrio
(som)
marte
(o silêncio)
mais próximos da lua negra
(round spot on the full moon)

fenda rubra na pele branca
exala o doce aroma da carne

nadando em círculos
um tubarão em águas tépidas
saliva palavras
deflagrando a fala voraz
da presa e do predador
do ouvinte e do interlocutor
que por breves instantes
confundem papéis
na noite do eclipse lunar



Igor Marques
25.03.1997

domingo, 27 de fevereiro de 2011




a tinta flui
em síncopes
a cada letra
derrama-se
caudalosa
em palavras

rio negro
no seu leito
a selva liquefeita
ondula
em seiva amniótica

o espelho d’água
revela um singelo
céu postal com nuvens
que camufla
duplica
sedentos tigres
de papel

omnívora frase
serpenteia
em água turva
nutre-se voraz
de homens e bichos inchados 
de histórias truncadas
deglute seus cantos
sussurros e mágoas
em putrefação
seus corpos encalham
na margem de areia e lodo
enredados em cipós
e troncos tombados
berço e forragem
do poema



Igor K Marques
14 de março/1995
& fevereiro/2011



















tem de vibrar
tem de ser quente
no corpo do olho
dentro da boca
a lingua ágil
suga
pressiona
aprova & descarta
casca & semente

os dentes laceram
em busca da polpa
de todo o sabor
em busca de toda a cor
o olhar em trânsito
o olhar em transe
beija a lona perplexo
com cinzas minerais
& claros cádmios
vermelhos
pulsando na tela




igor k marques
18.11.1991
03.08.2010

domingo, 13 de fevereiro de 2011

 

a carga de azul casual
irrompe anil no branco
fluorescente do monitor
no corte transverso
de um fragmento de texto
na percussão dos dedos
impondo o ritmo de criação
na busca da cadência
precisa da escrita
ainda sem nexo
divagando no caos inicial
entrelinha e entrelaços
entranha de cabeleira
de tranças em transe
no devaneio vagabundo
no ócio perturbador
descompasso preciso
nem côncavo
nem convexo
berço da criação
de uma ciência inexata
da poesia

Igor Marques
2006

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ME ESBARRO / TIRO UM SARRO







ME ESBARRO
TIRO UM SARRO
TUSSO E CUSPO 

ENQUANTO RASTREIO 
O DISCURSO PERDIDO

EXPECTORO CATARRO
DE QUÊ FALO?

DO CAFÉ CULTUO A BORRA
DO SANGUE O COÁGULO
O AZINHAVRE DO COBRE 
A GANGA DO BRONZE
DAS PEDRAS O LEITE
DAS ENTRANHAS O FEL

CULTUO O CHAMADO 

DO BICHO NO CIO
O MUCO DA FÊMEA
O AROMA DA GALA
DE VÊNUS A CAL
DO SEXO A SEDE
DO CORPO A FOME
DA TERRA O CIO
DA SALIVA 
O SAL E O MEL

É MATÉRIA ESPESSA
A PALAVRA EM BRUTO

AREIA MOVEDIÇA
É LAVRA DE ESCRIBA 
NO SEDIMENTO DO MALDITO
(SEM RESSENTIMENTOS?) 
ENGASGO 
POR COMPULSIVO PIGARRO
ATOLO NO RETÓRICO LODO 
(ORADOR DE VOZ PASTOSA)
SUSPENDO.CANCELO.EMUDEÇO
ATÔNITO  
NA GARGANTA
O NÓ
DA FALA TRUNCADA
NO CÉU DA BOCA

II


REVEJO EM LAPSOS
BRANCOS DE MEMÓRIA
FLASHES DE AMNÉSIA
NÍTIDAS GLAUCOMATOSES 
ME AUTO RETRATO
EM CINZA E PRETO
MERO REFLEXO
PÍFIA MIRAGEM
MÍOPE E TARTAMUDO
PREPARO O DISCURSO
DA INAUGURAÇÃO
MAIS UMA VEZ
ADIADA



igor k marques
março/2006

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