segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

a cor da pintura / sobre trama de linho





a cor da pintura
sobre trama de linho 
sobre cama de papel
sedimenta outro mirar
é só dela a fala
só ela terá a palavra
da cor sobre a cor
tem de vibrar
tem de ser quente
no corpo do olho
dentro da boca
a lingua ágil
suga.tateia
pressiona.degusta
outro provar

os dentes laceram
trituram a casca
polpa & semente
a boca em busca
de todo o sabor
em busca de toda a cor
do sumo da palavra
o olhar em trânsito
o olhar em transe
beija a lona perplexo
com cinzas minerais
amarelos & laranjas 
cítricos
ácida pintura
pulsando na tela
a palavra contínua
a fala sibilina
segue com ela
é dela a palavra 
a.final


igor k marques
18.11.1991

03.08.2010

domingo, 26 de fevereiro de 2012

venha como estiver































VENHA
COMO ESTIVER
ACERCATE DE MI
VENHA & SEJA
COMO FOR
MAS VENHA
NA POLPA DA PALAVRA
NO OSSO DA POESIA
VENHA COMIGO PERDER-SE
NUM SOLO DE MILES
EN EL CUERO
DE LOS TIMBALES
AHORA SE QUE TE VI
COME WITH ME
BUT NOT SO FAST
SUAVE NO MÁS
AHORA QUE APARENTAS
ESTAR AQUI
ALAMBRE DULCE
COME AROUND
IN A CENSORED
PRINCE SONG

NAMED COME
I'LL GET THE LYRICS

FOR YOU TO SING ALONG
ON & ON
COME AS YOU ARE
DESPIDA DE TUDO
NUMA INCONTIDA RISADA
PORTAS E FENDAS
ESCANCARADAS

I’VE HEARD RUMOURS
YOU’VE BEEN HUSTLING
IN HONG KONG
NO MATTER HOW PURE
DON’T MIND IF YOU LIE
I DON’T BOTHER WITH WHOM
YOU FAKE A SIGH
BUT COME
WITH ME
BEFORE I DIE
COME ON
I BEG YOU
COME
OVER ME
POETRY



Igor Marques
março & abril/2011

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012







parecia mais uma alucinação -  que é que um downer não faz com você - é o que dá ir pra rua na hora do rush depois da overdose diária - não tinha dúvida, debaixo da pesada maquiagem, daquela ridícula, óbvia caratonha de palhaço arrelia, estava o canalha, o mendigo-fake que me deu o cano; era bagulho malhado. me passou pra trás o analfabeto. sou o cara, tá sabendo? to quase faturando um canudo na faculdade. não vou deixar barato. jogar o carro em cima, esmagá-lo como um inseto, não dava, me arrastava, mal engatava a primeira e parava de novo, isso há duas horas. no momento em que fosse abordado pelo otário, sacaria minha escopeta com silenciador. abaixar o vidro blindado, apenas dois dedos, estourar sua cabeça seria  gratificante. mas, com certeza, uma roubada. podia ver o corpo de um idiota vestindo calça estampada com bolas pretas, a cabeça esfacelada, sangue  e miolos escorrendo na carroceria do meu possante. seria enquadrado na hora. o ódio geral ao falso pedinte de sinal de trânsito seria, estupidamente convertido em peninha e revolta, meros pretextos pra mais um linchamento espontâneo. vamos arrebentar o infeliz que cometeu essa barbaridade. arranca ele do carro, amarra no poste. não, primeiro chuta no saco, todo mundo, pra depois a gente  acabar com ele. já tinha visto, ou melhor participado de um justiçamento desses. foi legal, o babaca merecia. enfim, com a cara a dois centímetros do cano serrado de um fuzil o trouxa não é de nada. na hora resolveria o que fazer, se ia ficar só no susto mesmo. deixar o palhaço se mijando pra trás. mas, fudeu. o fedepê foi mais rápido; me injetou alguma porra forte na mão. afinal quem não anda armado em sampa? e tomou conta da situação. rabisco essa mensagem numa caixa de papelão rasgada. to numa numa espécie de jaula de circo mambembe de periferia. dessas de tela de galinheiro, feita pra caça miúda. caiu a primeira tromba d'água do verão. em volta mais parece uma arca de noé, fazendo água, indo a pique. downer mais anfetamina dá nisso. perdi, to com as horas contadas. falta pouco pra execução. estão negociando a minha hummer blindada lá fora. nas outras jaulas vejo bichos estranhos. um unicórnio cobre uma bezerra de ouro, todas as fêmeas estão no cio. mugem, uivam, ladram, gemem por seus machos. na minha gaiola acaba de entrar uma sereia loura, com os peitos de fora. é! e com escamas no rabo e tudo ladeada por um anjo do inferno. explico; é um desses hell angels todo paramentado em couro negro, lustroso, em cima da harley davidson, é claro. o incrível é que tudo rolou normal como era antes, depois do forte estrondo e o clarão que me cegou. também, pra que cabeça; olhos, mandíbula e dentes? te escrevo de outra dimensão. há vida após a morte. tenho dito.


igor k marques
10.02.2012

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012








longo rastro de lesma
desenho no roda-pé
um grafismo disforme
deliro 

visgo de caracol africano 
pranto de escaravelho ferido 
ou o riso dentado.lacrado 
de crocodilo empalhado? 

há oito anos 
no mármore branco 
do corredor do palácio 
se arrasta um minotauro 
em terno de burocrata 

caminha adernado 
quase tombando 
carapaça oscilante 
de tartaruga virada



igor k marques
02.12.97


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