quarta-feira, 27 de abril de 2011



























a letra miúda
no alto 
da página
anuncia
o torpor
que me cerca
me acossa
a morte deve ser assim


puro torpor
a insensibilidade crescente
nos dedos dos pés
e das mãos
a dificuldade de abrir os olhos
ao acordar mecânicamente
todos os dias
as palavras em precipitação vertical
pontuam
cadenciam
a imperceptível
decadência


hibernar
o viver vegetativo
ao longo de anos
décadas
crônico estado hipnótico
sonâmbulo deambular
letárgico sobreviver
alternados
com raros
escassos momentos
de escuta clara
e nítida visão




igor k marques

domingo, 24 de abril de 2011


"une plague a la plage/ uma praga veste prada"

une plague a la plage
uma praga veste prada
anoréxica ou ávida?
sexy plastic idol?
a cada geração
girls-niñas-meninas
obesos objetos
muñecas-bonecas-dolls
projetam-se ansiosas
em sua imagem serial
depois as descartam
celebridades defasadas
derretem-se frígidas
lançadas nas ruas
mórbidas
rígidas
fetiches ao sol



















Igor K Marques

23 de abril/2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

a segunda canção para Bradley Manning



ecoa surda e rouca 

como uma crônica cantilena 
repercute entre as quatro paredes nuas da cela 
a voz do ex-soldado Bradley Manning

como na última canção de Dylan
se esgarça nas cordas vocais
para o ex-soldado preso
o canto do poeta contorcido em blues

para aquele que não se calou
sobre o que fez e viu no front 

casas invadidas a pontapés em Bagdá e Kabul 
ele viu, o ex-soldado Manning
e não se calou
tangled up in blues

in the name of bloody gods
viu cães rosnando para homens nús
o ex-soldado em Abuh Graib
e mostrou ao pintor
contorcido em azuis

as vísceras do imperador
Botero viu e não se calou
na capital do país mais forte
diante de experts e colecionadores
o artista exibiu

para que não nos calem
basta rosnar em surdina
essa crônica cantilena
contorcida em azuis

irá varar as paredes nuas
antes espessas
agora finas
da cela do ex-soldado Manning
tangled up em blues



 

Igor K Marques
18 de abril/2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

"VENHA COMO ESTIVER"


VENHA

COMO ESTIVER

ACERCATE DE MI

VENHA & SEJA

COMO FOR

MAS VENHA

NA POLPA DA PALAVRA

NO OSSO DA POESIA

VENHA COMIGO PERDER-SE

NUM SOLO DE MILES

EN EL CUERO

DE LOS TIMBALES

AHORA SE QUE TE VI

COME WITH ME

BUT NOT SO FAST

SUAVE NO MÁS

AHORA QUE APARENTAS

ESTAR AQUI

ALAMBRE DULCE

COME AROUND

IN A CENSORED

PRINCE SONG

COME AS YOU ARE

DESPIDA DE TUDO

NUMA INCONTIDA RISADA

PORTAS  E FENDAS

ESCANCARADAS


I’VE HEARD RUMOURS

YOU’VE BEEN HUSTLING

IN HONG KONG

NO MATTER HOW PURE

DON’T MIND IF YOU LIE

I DON’T BOTHER WITH WHOM

YOU FAKE A SIGH

BUT COME

WITH ME

BEFORE I DIE

COME ON

I BEG YOU

COME

OVER ME

POETRY


Igor Marques

março & abril/2011


segunda-feira, 11 de abril de 2011

"umas de branco"
































umas
de branco
grávidas
diurnas 

outras
de preto
ávidas
noturnas



 


umas
circuitos fechados
fendas lacradas
redomas translúcidas
esferas blindadas
líquida circunferência
placentas impregnadas 
de luz amniótica
saciado o desejo
nada mais
as seduz 


outras
rasgos
falhas
fissuras 
mucosas
pulsam insones
bocas escancaradas
sucção de buraco negro
explícitas entranhas 
em coro viúvas 
uivam em vibrato
entregam-se ao delírio
à vertigem de virgens
na boca de túneis
sangram
à beira de precipícios
uivam
















































































































igor k marques
27&28.05.96
25.08.10





















risco de lápis
riscos calculados
(beware of darkness)

letras renais
minério de cinzas dissolutos
(in the dead of night)

o instrumento de acupuntura
(0,5mm de injeção de grafite)
sobre a pele branca
se inscreve em mistério
sobre tigres de papel
em breus absolutos
(beware of the hopelessness
around you)


Igor Marques
19 de junho/1996

sábado, 2 de abril de 2011

a noite redesenha





















a noite redesenha
em monocromos
& monossílabos
(ideogramas?)
o que antes repercutia
na epiderme da retina
reverberando em verdes ftalos
& vermelhos cádmios claros
a noite recodifica em silêncio
& breu
(criptogramas?)
o resíduo caligráfico
do que foi eco
vaga memória
da cor


Igor K Marques
25 de março/2004

 
















tocando nu
ao piano
igualmente despido
de seus trezentos anos
de teclas percutidas
não mais um hammerklavier
nenhum resíduo
de um pianoforte
o homem nu e seu instrumento
despem-se de seus saberes
para reinventarem a música
igor k marques
31 de março/2011


Veja outras matérias

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...