terça-feira, 22 de março de 2011

uma canção para bradley manning

 





















sou um ex-soldado
em fuga
falo do que vi
denuncio e vazo
refaço o atalho
em zig-zag disperso
degrado  

em cinza chumbo
resvalo e tropeço
no poço me vejo 

quase no fundo
mas retomo o rumo
remendo a asa
em súbito transe
resgato a fé
e levito
caminho em brasa
o que não impede
a inevitável captura
o iminente colapso
regrido em degrêdo
um místico descrente
um renitente relapso
prostrado
de cara no chão
escuto à frente
pesado o passo
de um tipo fardado
gordo, branco e calvo
percute nas paredes da cela
no piso de cimento queimado
da morna ilha caribenha


em campo de tiro
sou alvo
sou presa
sou caça
um tiro não dói
só arde
pra morrer
ainda é cedo
pra matar
é sempre tarde


recupero o prumo
espalho as cinzas
com o pé
não há passo
que não o desfaça
farejo e rastreio
de volta à trilha
são e salvo
volto pra casa
tão cedo
não me enterram
em cova rasa




Igor K. Marques
novembro/2005
março/2011


quinta-feira, 10 de março de 2011

como um aguirre




























como um aguirre
de Herzog
me arrasto
sobre terra virgem
claudico
atendo exausto
às instruções do diretor
& all of a sudden
de pernas para o ar
I’m trapped
hanging up side down
& down side up
em terra estrangeira



























enclausurado
entre quatro muros
sem histeria
sem ais
o assédio
e as retaliações
stop it
urros e cantatas
calma violência
é apenas um set de filmagem
nada mais
























espirros de sangue
suor morno
surdo humor
mucos e pigarros
esperma e espasmo

para gerar um poema

uma frase
de cada vez
na cabeça
o Tibre
o timbre
& a qualidade da palavra
ainda lacrada
na ponta da lingua
na polpa do fonema



Igor K. Marques
20.01.1993
& 05.04.1996



mono cromo mono
silk sheet on black skin
charcoal and steel
ice on the moon
red spot on the back of a mandrill

os faróis na curva revelam
longas marcas de pneus
sulcos concêntricos no vinil
abrigam o som e o silêncio
mercúrio
(som)
marte
(o silêncio)
mais próximos da lua negra
(round spot on the full moon)

fenda rubra na pele branca
exala o doce aroma da carne

nadando em círculos
um tubarão em águas tépidas
saliva palavras
deflagrando a fala voraz
da presa e do predador
do ouvinte e do interlocutor
que por breves instantes
confundem papéis
na noite do eclipse lunar



Igor K. Marques
25.03.1997


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